Press Release: 1996-02-11: Tec Toy atribui sucesso à contratação de 'boa gente'

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Language: Portuguese
Original source: www1.folha.uol.com.br



CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO 
DA REPORTAGEM LOCAL


Stefano Arnhold, 41 anos, gasta em média uma hora por semana jogando video game. Como muitas crianças, acha que é pouco e lamenta não poder jogar mais tempo.

As razões para Arnhold reclamar que não pode mais passar horas jogando video games são, obviamente, muito diferentes. Para ele, é fundamental manter-se atualizado sobre os lançamentos de jogos e equipamentos nessa área, os principais produtos da empresa que dirige há pouco menos de dois anos.

Arnhold é presidente da Tec Toy, uma companhia criada em meados de 1987 especialmente para explorar o nicho de mercado que apareceu com o começo da aplicação dos recursos eletrônicos nos brinquedos.

Filho de imigrantes, nascido em São Paulo, Arnhold enfrentou sua primeira mudança radical aos 15 anos, quando mudou de nome ao trocar a escola alemã onde estudava pelo Colégio Bandeirantes. Até então, ele era tratado por todo mundo como Stefan, um nome muito comum na Polônia, terra da sua mãe.

Só ao ir para um colégio brasileiro ele passou a ser conhecido por Stefano, o nome que consta da sua certidão de nascimento por insistência do pai, que, mesmo tendo nascido na Alemanha, achava que o filho deveria ter um nome que pelo menos soasse como brasileiro. Para satisfazer a mulher, aceitou o nome Stefan, mas acrescentou a letra o no final.

Depois do curso de administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e passagens pela empresa de um tio e pelo grupo Sharp, Arnhold foi para a Tec Toy logo depois da sua fundação, em 1987.

Em menos de dez anos, a empresa conseguiu alcançar um faturamento de R$ 128 milhões, registrado no ano passado, e desde o segundo ano de funcionamento é a segunda maior companhia do setor de brinquedos no Brasil.

As vendas da Tec Toy cresceram 12% em 1995, mesmo numa situação complicada como a de 95, com a voraz competição dos produtos importados e a queda no poder de consumo da classe média.

Ao explicar esse crescimento, Arnhold surpreende mais do que ao dizer que lamenta não poder jogar muito mais video game.

Ele diz que a base do sucesso da Tec Toy é a fórmula usada para empregar os seus funcionários. "Aqui, são contratadas apenas boas pessoas. Nossas pessoas são diferentes. Se você conviver com elas, vai perceber. Todo mundo é boa gente", afirma Arnhold.

Ele conta que, no início da empresa, todos os funcionários, mesmo os que iriam trabalhar nas funções mais simples, como um porteiro, eram pessoalmente entrevistados por um dos diretores. E como se sabe se uma pessoa é boa? "Olhando nos olhos dela."

Ele reconhece que a empresa contratou algumas pessoas que não eram boas, mas diz que esse tipo de funcionário dura pouco lá. Também contratou quem não era o mais competente no mercado, mas que revelou potencial para crescer profissionalmente.

Muitos dos que saíram, especialmente gerentes e supervisores, foram tocar seus próprios negócios porque a Tec Toy também valoriza contratar gente com iniciativa.

Arnhold fala com tranquilidade dos valores da Tec Toy porque não foi ele que os criou. A Tec Toy surgiu da idéia e iniciativa de Daniel Dazcal, com quem Arnhold trabalhou na Sharp, no início da década de 80, e que foi o presidente da empresa até sua morte há pouco menos de dois anos.

O sonho de Dazcal era montar uma empresa em que fosse possível ser feliz trabalhando lá. Por isso, ele criou critérios para suas operações que incluem a determinação de se procurar empregar pessoas que sejam boas, para usar a expressão de Arnhold.

A decisão de criar uma empresa de brinquedos surgiu da constatação de Dazcal de que o sucesso dos brinquedos eletrônicos em outros países não teria por que não acontecer também no Brasil.

Ele encontrou dois sócios que entraram principalmente com capital, os irmãos Kryss, grandes investidores do mercado de capitais. Arnhold deixou a Sharp pela Tec Toy poucos meses depois da formação da nova empresa e acabou sendo o sucessor natural de Dazcal, depois da sua morte.

Hoje, a Tec Toy é uma empresa de capital aberto, com ações nas Bolsas de Valores, sendo que os quatro maiores sócios continuam sendo a família de Dazcal, a família de Arnhold e os irmãos Kryss.

Não foi apenas o talento em encontrar pessoas diferentes que explica, porém, o crescimento contínuo do faturamento da Tec Toy. Outra marca da empresa é a procura constante da inovação.

Um exemplo citado por Arnhold foi o lançamento de um video game dedicado às meninas, o Master System Girl. As estatísticas internacionais mostram que, mesmo em países onde o video game já tem enorme aceitação, o número de meninas que têm um desses brinquedos é pequeno. Nos Estados Unidos, por exemplo, só 13% dos video games são comprados para meninas. No Brasil, só 10%.

Embora não sejam donas de video games, 30% das meninas gostam do brinquedo e tomam emprestado o jogo do irmão, do primo, de um amigo.
Agora, a nova grande aposta da empresa é o crescimento no consumo de CD-Rom para serem usados pelas crianças nas casas onde já existe um computador com recursos de multimídia.

Além de contar com as pessoas certas e de investir em inovação, o terceiro ponto fundamental do tripé que sustenta a Tec Toy, no entender de Arnhold, é o acesso a recursos financeiros, facilitado pela participação dos irmãos Kryss.